Estudando comportamento humano, neurociência e, principalmente vivendo a cada dia uma vida mais essencialista, tenho experimentado algumas sensações que, por vezes, no mundo de hoje, são condenadas.
Uma delas é o tédio, que surge daquela sensação de não querer fazer nada, de cansaço ou, por vezes de falta de clareza sobre o próximo passo.
Nesse momento em que paralisamos é que pode acontecer o auto-julgamento desnecessário.
Especialmente porque, segundo muitos “especialistas”, uma vida produtiva significa fazer mais e em menos tempo.
Os resultados estão sendo vistos dia após dia, com cada vez mais casos de problemas de saúde mental por conta do excesso.
Esse excesso, estimulado pelo volume de informações que temos disponíveis hoje, nos coloca em uma posição quase que impossível de criar um espaço vazio entre tanto ruído.
Porém, com intenção e atenção, é possível.
E é aí que entra o tédio, tão julgado e tão criticado.
O que é o tédio
Recentemente psicólogos e neurocientistas chegaram a uma definição precisa sobre o que é o tédio, e que acopla todas as demais definições que já haviam sido feitas.
Eles definiram o tédio como sendo “Um estado aversivo de querer, mas ser incapaz do exercício de atividades satisfatórias.”
O que causa o tédio
Segundo os pesquisadores, você se torna entediado quando:
- tem dificuldade em prestar atenção às informações internas, como pensamentos ou sentimentos, ou a estímulos externos necessários para participar de atividades satisfatórias;
- está ciente de que está tendo dificuldade em prestar atenção;
- culpa o ambiente pelo seu estado enfadonho (“Esta tarefa é chata”, “Não há nada a fazer”).
Por que o tédio é bom
Num artigo sobre o tema, a publicação Psychology Today explica que quando tentamos encontrar opções para substituir o tédio, na verdade estamos roubando do nosso cérebro um tempo de inatividade. E esse tempo está diretamente ligado à criatividade.
Quando entendemos o funcionamento do nosso cérebro e colocamos em prática a criação de tempo para não fazer absolutamente nada, geramos os seguintes benefícios:
1. Recarregar: estamos sendo bombardeados de informações como mencionei acima. É fundamental pararmos para podermos refazer as conexões neurais e, para isso, dar um tempo nas redes sociais, notícias e informações é fundamental. Não é pra sair totalmente. É para deixar de lado por algum tempo durante o dia.
Que tal colocar o celular no modo não perturbe a partir das 19h e não encostar mais nele até o dia seguinte?
Ou, quem sabe, colocar uma meta de não usar redes sociais no final de semana e se conectar com a natureza e com as pessoas inteiramente. Seria uma boa opção para você? Que tal experimentar?
2. Imaginação e criatividade: Um estudo recente mostrou pequenas atividades como tomar banho ou passear o animal de estimação podem estimular a imaginação porque não estamos colocando foco em algo específico naquele momento.
E se, todos os dias, fizéssemos uma caminhada de 30min pelo bairro para poder simplesmente deixar as ideias fluires?
Eu, por exemplo, tenho ido e voltado da academia à pé todos os dias. É um trajeto de 15min para ir e 15min para voltar, onde não faço absolutamente nada. Apenas ando em direção ao destino. Os benefícios não são imediatos mas é como se meu cérebro se re-organizasse e tudo ficasse mais claro. Vale a pena tentar.
3. Altruísmo: há alguns pesquisadores na Irlanda, que relatam que o tempo em que estamos entediados no ajuda a encontrar o nosso propósito para as áreas da nossa vida. E isso faz muito sentido para mim porque todas as vezes que “moramos mais em nós mesmos” convivemos com o silêncio. E é no silêncio que conseguimos ouvir A Voz que está dentro de nós e que já possui todas as respostas para nossas perguntas mais complexas.
4. Agir em direção às metas: Ainda relacionado a esse encontro com nós mesmos que o tédio proporciona, esse espaço que liberamos na nossa mente para que ela se reorganize de forma natural é o que nos faz pensar mais no futuro e no que queremos e não queremos.
Por isso, quando mais intencional for a parada e mais permissivo for o seu convívio com o tédio, mais você pintará a sua visão de futuro com clareza.
Ainda falando sobre o funcionamento do nosso cérebro, a neurocientista Caroline Leaf, explicou à Glamour Magazine UK, que ficar entediado ativa uma parte (à qual chama rede) essencial do nosso cérebro. “É chamada rede de modo padrão e é de vital importância para o cérebro”, afirma esta neurocientista. Acrescentando que, “quando está sozinho com os seus pensamentos reinicia o seu cérebro, reativa essa rede e coloca a saúde do cérebro de volta ao cérebro. Essa rede nunca se desliga, mas exige que gaste esse tempo desconectado da tecnologia – para pensar profundamente – para prosperar.”
Além dos benefícios de criatividade e encontro de propósito, estudos revelam que o tédio pode ajudar a reduzir a ansiedade.
Segundo o Dr. Esther Priyadharshini, um professor da Universidade de East Anglia. “Todos nós precisamos de um tempo quietos, longe do bombardeio constante de estimulação. Não há necessidade de um frenesi de atividade em todos os momentos”, afirmou o especialista.
No ano passado, o professor Mary Immordino-Yang, um psicólogo da Universidade da Califórnia, descobriu que algumas pessoas tendem a experimentar a introspecção consciente quando estão entediados, o que os torna menos ansiosos e mais motivados, resultando em melhores desempenhos em testes e tarefas.
No mundo ultraconectado em que vivemos, não é tarefa fácil, sem dúvida.
Porém, é uma intenção que precisa ser criada.
Para uma vida essencialista é necessário ter a consciência das escolhas que fazemos e, para começar a encontrar tempo intencionalmente livre para o NADA, é fundamental nos planejarmos sim.
Lendo os benefícios que o tédio pode causar na sua mente e nos seus resultados de vida, a minha pergunta pra você é:
Acha que vale a pena criar esse tempo diário para simplesmente não fazer nada?
Quando o tédio chegar, você terá uma escolha: se ocupar ou simplesmente deixar o sentimento chegar e se instalar.
Como diz meu amigo Dan Porto, “o que você resiste, persiste. O que você inclui, flui”
Inclua o tédio e deixe-o criar os espaços para o nosso cérebro encontrar o maior potencial que ele já tem.
Deixe fluir.
As escolhas serão consequências da nova consciência expandida.
Boa semana.
Bom trabalho
Bora viver
Stenio Moura